Para inaugurar este blog de resgate de pessoas e coisas, um nome, escolhido um pouco ao acaso, de entre muitos que andam muito injustamente esquecidos.
Biografia Breve
Nasceu em Lisboa em 1921. Faleceu em 1998.
Depois dos estudos no colégio feminino francês e no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho frequentou, na antiga Faculdade de Letras de Lisboa, o curso de Filologia Germânica. Em 1949, ano em que se casou com o escritor Urbano Tavares Rodrigues, foi viver para França (Montpellier e Paris).
Foi apenas após o regresso de França, já quase com quarenta anos, que divulgou os seus contos em livro.
Em 1959, publicou Tanta Gente, Mariana, uma obra considerada pela imprensa da época como uma revelação. Dois anos depois ganha o Prémio Camilo Castelo Branco com As Palavras Poupadas. Contudo, Maria Judite de Carvalho publicara em 1949 o seu primeiro conto na revista Eva e em 1953 enviara as «Crónicas de Paris» para a mesma revista. A partir de 1968 foi redactora e colaboradora em diversas publicações e jornais. As história escritas nos jornais e nas revistas constituem documentos essenciais para o estudo da obra da autora, que integra crónicas, novelas, romances, poesia e teatro.
Levanta-se da mesa. Lá fora, num relógio qualquer, batem duas horas. Daí a momentos, daí a uma eternidade, levantar-se-á da mesa outra vez. E amanhã. E depois. E daí a muitos anos. Tudo morre à noite, dizia Claude. Mas não, a vida é longa, desliza e corre sem uma quebra. Uma sucessão de acontecimentos, uma corrente sem fim de palavras ditas e de palavras poupadas. Dessas principalmente.
In Palavras Poupadas
Desde muito cedo Maria Judite de Carvalho viveu com as tias paternas, tendo pouco contacto com os pais que viviam na Bélgica. O período da infância determinou o seu olhar sobre a vida. O luto e o sofrimento foi uma constante com a morte das tias, da mãe e o desaparecimento do pai aos quinze anos.
A crítica literária tem vindo a associar a escrita da autora a uma literatura intimista e autobiográfica.
«o seu olhar adulto, desencantado, não pousa nos aspectos exteriores da vida: concentra-se todo nos dramas íntimos e nos pormenores – palavras, gestos, objectos carregados de sentido – que subtilmente os denunciam»
Cf. Jacinto Prado Coelho in Jornal de Letra e Artes 25-7-1962
Lisboa constitui um espaço fundamental de identificação. A casa onde vivia situava-se na Praça da Alegria, local privilegiado para acompanhar as diferentes fases de crescimento da cidade. A transformação das casa velhas das avenidas em edifícios de betão ficaram gravadas na memória da escritora e foram sempre lembradas como momentos decisivos de uma relação íntima que manteve com o lugar onde nasceu. O balançar entre as zonas novas e velhas da cidade. Os seus percursos habituais – A Avenida da Liberdade, o Rossio, a Baixa, o Terreiro do Paço, o rio Tejo. As figuras observadas no dia-a-dia transformando-se em personagens “reais” da narrativa ficcional.
Tudo isto se encontra já na novela Tanta Gente, Mariana e será sempre uma constante tanto nos contos como nas crónicas.
«As crónicas que escreve desenham-se, por vezes, com a mesma nítida grafia de certas páginas descritivas de Irene Lisboa. Já o mesmo não sucede quando se volta para o interior de si própria ou dos seres cujas íntimas frustrações descreve. Então supera a mestra: a mestra não descia tão fundo.»
João Gaspar Simões
Toda a escrita de Maria Judite de Carvalho se situa geralmente em cenários de pequena burguesia urbana onde o conflito é representado, normalmente, por vozes femininas que, à força dos trilhos da vida, tecem labirintos fechados sobre si mesmas. São mulheres anónimas e sem horizontes para as suas vidas, que aceitam a sua condição com resignação e espírito de sacrifício.
As narrativas sóbrias e irónicas estão cheias de pequenos mundos onde vegetam mulheres cansadas, surdas, fora de si mesmas. Mulheres que vagueiam em realidades ínfimas e banais, num estado de sereno desespero em que parecem ignorar “O porquê de estar neste mundo à espera de coisa nenhuma”.
Obras da autora (últimas edições)
Tanta Gente, Mariana (contos), Lisboa, Publicações Europa-América, 1988.
As Palavras Poupadas (contos), Lisboa, Publicações Europa-América, 1988. (Prémio Camilo Castelo Branco)
Paisagem sem Barcos (contos), Lisboa, Publicações Europa-América, 1990.
Os Armários Vazios (romance), Lisboa, Livraria Bertrand, 1978.
O Seu Amor por Etel (novela), Lisboa, Movimento, 1967.
Flores ao Telefone (contos), Lisboa, Portugália Editora, 1968.
Os Idólatras (contos), Lisboa, Prelo Editora, 1969.
Tempo de Mercês (contos), Lisboa, Seara Nova, 1973.
A Janela Fingida (crónicas), Lisboa, Seara Nova, 1975.
O Homem no Arame (crónicas), Amadora, Bertrand Editora, 1979.
Além do Quadro (contos), Lisboa, O Jornal, 1983.
Este Tempo (crónicas), Lisboa, Editorial Caminho, 1991. (Prémio da Crónica da Associação Portuguesa de Escritores).
Seta Despedida (contos), Lisboa, Publicações Europa-América, 1995. (Prémio Máxima, Prémio da Associação Internacional dos Críticos Literários, Grande Prémio do Conto da Associação Portuguesa de Escritores, Prémio Vergílio Ferreira das Universidades Portuguesas)
A Flor Que Havia na Água Parada (poemas), Lisboa, Publicações Europa-América, 1998 (póstumo).
Havemos de Rir! (teatro), Lisboa, Publicações Europa-América, 1998 (póstumo).
Diários de Emília Bravo (crónicas) Organização de Ruth Navas, Lisboa, Editorial Caminho, 2002.
Depois dos estudos no colégio feminino francês e no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho frequentou, na antiga Faculdade de Letras de Lisboa, o curso de Filologia Germânica. Em 1949, ano em que se casou com o escritor Urbano Tavares Rodrigues, foi viver para França (Montpellier e Paris).
Foi apenas após o regresso de França, já quase com quarenta anos, que divulgou os seus contos em livro.
Em 1959, publicou Tanta Gente, Mariana, uma obra considerada pela imprensa da época como uma revelação. Dois anos depois ganha o Prémio Camilo Castelo Branco com As Palavras Poupadas. Contudo, Maria Judite de Carvalho publicara em 1949 o seu primeiro conto na revista Eva e em 1953 enviara as «Crónicas de Paris» para a mesma revista. A partir de 1968 foi redactora e colaboradora em diversas publicações e jornais. As história escritas nos jornais e nas revistas constituem documentos essenciais para o estudo da obra da autora, que integra crónicas, novelas, romances, poesia e teatro.
Levanta-se da mesa. Lá fora, num relógio qualquer, batem duas horas. Daí a momentos, daí a uma eternidade, levantar-se-á da mesa outra vez. E amanhã. E depois. E daí a muitos anos. Tudo morre à noite, dizia Claude. Mas não, a vida é longa, desliza e corre sem uma quebra. Uma sucessão de acontecimentos, uma corrente sem fim de palavras ditas e de palavras poupadas. Dessas principalmente.
In Palavras Poupadas
Desde muito cedo Maria Judite de Carvalho viveu com as tias paternas, tendo pouco contacto com os pais que viviam na Bélgica. O período da infância determinou o seu olhar sobre a vida. O luto e o sofrimento foi uma constante com a morte das tias, da mãe e o desaparecimento do pai aos quinze anos.
A crítica literária tem vindo a associar a escrita da autora a uma literatura intimista e autobiográfica.
«o seu olhar adulto, desencantado, não pousa nos aspectos exteriores da vida: concentra-se todo nos dramas íntimos e nos pormenores – palavras, gestos, objectos carregados de sentido – que subtilmente os denunciam»
Cf. Jacinto Prado Coelho in Jornal de Letra e Artes 25-7-1962
Lisboa constitui um espaço fundamental de identificação. A casa onde vivia situava-se na Praça da Alegria, local privilegiado para acompanhar as diferentes fases de crescimento da cidade. A transformação das casa velhas das avenidas em edifícios de betão ficaram gravadas na memória da escritora e foram sempre lembradas como momentos decisivos de uma relação íntima que manteve com o lugar onde nasceu. O balançar entre as zonas novas e velhas da cidade. Os seus percursos habituais – A Avenida da Liberdade, o Rossio, a Baixa, o Terreiro do Paço, o rio Tejo. As figuras observadas no dia-a-dia transformando-se em personagens “reais” da narrativa ficcional.
Tudo isto se encontra já na novela Tanta Gente, Mariana e será sempre uma constante tanto nos contos como nas crónicas.
«As crónicas que escreve desenham-se, por vezes, com a mesma nítida grafia de certas páginas descritivas de Irene Lisboa. Já o mesmo não sucede quando se volta para o interior de si própria ou dos seres cujas íntimas frustrações descreve. Então supera a mestra: a mestra não descia tão fundo.»
João Gaspar Simões
Toda a escrita de Maria Judite de Carvalho se situa geralmente em cenários de pequena burguesia urbana onde o conflito é representado, normalmente, por vozes femininas que, à força dos trilhos da vida, tecem labirintos fechados sobre si mesmas. São mulheres anónimas e sem horizontes para as suas vidas, que aceitam a sua condição com resignação e espírito de sacrifício.
As narrativas sóbrias e irónicas estão cheias de pequenos mundos onde vegetam mulheres cansadas, surdas, fora de si mesmas. Mulheres que vagueiam em realidades ínfimas e banais, num estado de sereno desespero em que parecem ignorar “O porquê de estar neste mundo à espera de coisa nenhuma”.
Obras da autora (últimas edições)
Tanta Gente, Mariana (contos), Lisboa, Publicações Europa-América, 1988.
As Palavras Poupadas (contos), Lisboa, Publicações Europa-América, 1988. (Prémio Camilo Castelo Branco)
Paisagem sem Barcos (contos), Lisboa, Publicações Europa-América, 1990.
Os Armários Vazios (romance), Lisboa, Livraria Bertrand, 1978.
O Seu Amor por Etel (novela), Lisboa, Movimento, 1967.
Flores ao Telefone (contos), Lisboa, Portugália Editora, 1968.
Os Idólatras (contos), Lisboa, Prelo Editora, 1969.
Tempo de Mercês (contos), Lisboa, Seara Nova, 1973.
A Janela Fingida (crónicas), Lisboa, Seara Nova, 1975.
O Homem no Arame (crónicas), Amadora, Bertrand Editora, 1979.
Além do Quadro (contos), Lisboa, O Jornal, 1983.
Este Tempo (crónicas), Lisboa, Editorial Caminho, 1991. (Prémio da Crónica da Associação Portuguesa de Escritores).
Seta Despedida (contos), Lisboa, Publicações Europa-América, 1995. (Prémio Máxima, Prémio da Associação Internacional dos Críticos Literários, Grande Prémio do Conto da Associação Portuguesa de Escritores, Prémio Vergílio Ferreira das Universidades Portuguesas)
A Flor Que Havia na Água Parada (poemas), Lisboa, Publicações Europa-América, 1998 (póstumo).
Havemos de Rir! (teatro), Lisboa, Publicações Europa-América, 1998 (póstumo).
Diários de Emília Bravo (crónicas) Organização de Ruth Navas, Lisboa, Editorial Caminho, 2002.
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