segunda-feira, 17 de março de 2008

MARIA KEIL


Maria Pires Keil do Amaral nasce a 9 de Agosto de 1914. Artista multifacetada e difícil de catalogar, pode dizer-se que é um dos nomes maiores do Design em Portugal, tendo-se dedicado a diversas formas artísticas, da Pintura às Artes Gráficas e Ilustração, passando pela Azulejaria e concepção de Mobiliário, com algumas experiências nas áreas da Tapeçaria, Cerâmica, Cenografia e Figurinos, e até, mais recentemente, Fotografia.

Algarvia, natural de Silves, vem para Lisboa, onde ingressa na Escola de Belas Artes, no curso de Pintura.

Em 1933, casa com o arquitecto Francisco Keil do Amaral, passando a viver "rordeada de arquitectos", como afirma. Dele virá a ter um filho, também Francisco, também arquitecto.

Não chega a concluir o plano de estudos, começando, em 1939, a trabalhar no Estúdio Técnico de Publicidade, sob a orientação de Fred Kradofler, suíço radicado em Portugal, formado na escola germânica da Bauhaus.

Fruto desta imersão total da sua vida num ambiente artístico intenso e modernizador, Maria Keil começa a desenvolver uma postura muito própria no que respeita à responsabilidade do artista no mundo, que passará pelo desejo de actuar mais directamente sobre a sociedade e de conseguir um contacto mais imediato com um público vasto.

Deste modo, a par da sua primeira actividade de pintora, realiza diversos trabalhos publicitários, entre os quais se destaca o anúncio para a cinta Pompadour, de 1941.
Também nesse ano obtém o Prémio Revelação – Souza-Cardoso, do SPN, com o seu Auto-Retrato.

Entre 1946 e 1956 participa nas Exposições Gerais de Artes Plásticas da Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa, com diversos trabalhos de pintura. Mas é nas actividades de ilustradora e artista gráfica, e, mais tarde, na azulejaria, que a pintora se virá a destacar no panorama artístico português.

Como ilustradora, actividade que mantém durante longos anos, produz uma obra extensa e marcante, da qual se destacam os livros para crianças A Noite de Natal de Sophia de Mello Breyner, O Cantar da Tila, Cavaleiro Sem Espada, História de Um Rapaz, Joana Ana, O Palhaço Verde e Segredos e Brinquedos de Matilde Rosa Araújo, Histórias da Minha Rua e Histórias de Pretos e Brancos de Maria Cecília Correia, O Livro de Marianinha de Aquilino Ribeiro, O Lago dos Cisnes Azuis e A Banhoca da Baleia de Alexandre Honrado e Lote 12 2º Frente de Alice Vieira.
Ainda os livros infantis O Pau-de-fileira, Presentes, As Três Maçãs, Árvores de Domingo e Anjos foram não só ilustrados, mas também escritos pela própria Maria Keil.
Produz ilustrações e capas para obras de ficção e poesia, como a primeira obra de Irene Lisboa, ainda sob o pseudónimo de João Falco, Começa Uma Vida, Páscoa Feliz de José Rodrigues Miguéis, Ode (quase) Marítima de Augusto Abelaira, Folhas Caídas de Almeida Garrett e para edições de algumas colectâneas de poesia e contos tradicionais.
Colabora também como ilustradora para as revistas Ver e Crer, Eva, Seara Nova, Vértice e Panorama.

À Azulejaria, Maria Keil chega por via da arquitectura. Em 1940, o marido, Francisco Keil do Amaral, é convidado a projectar um edifício para a Exposição do Mundo Português e Maria Keil fica encarregue de conceber o mural alusivo aos monstros marinhos. Começa assim a sua relação mais próxima com a arquitectura e a concepção espacial da arte pictórica. Numa entrevista de 1985 ao Diário de Notícias, fala dessa novo campo e do comprometimento social que a essa segunda geração de artistas modernistas sentia. "Fazer quadrinhos (...) não ía alterar nada" afirma, "fazer coisas para a arquitectura" era estar "ao alcance de toda a gente".
Mais tarde projecta uma série de painéis de azulejos para edifícios públicos e realiza Mulher e Luta de Galos, dois painéis que expõe na Galeria Pórtico. Seguem-se a decoração do aeroporto de Luanda, delegação da TAP, em Paris, escritórios da ULP, em Setúbal e refeitório da colónia de férias de Palmela.

Mas os seus trabalhos de azulejaria mais marcantes e impactantes viriam um pouco mais tarde, com a realização do painel O Mar, para um bloco de edifícios na avenida Infante Santos, e a decoração de todas as estações do Metro de Lisboa, obra arquitectónica de Francisco Keil do Amaral.

Na verdade, a decoração das estações de Metro foi-lhe encomendada um pouco como uma "empreitada de revestimento" a realizar a baixíssimo custo, uma vez que o orçamento previsto não considerava esses acabamentos. Maria Keil recorreu ao máximo do seu engenho e capacidade para, com um mínimo de meios, oferecer à cidade de Lisboa um dos marcos iconográficos da sua modernidade. Recorreu ao revestimento em azulejo, de que tinha já alguma experiência e que se apresentava como um dos mais económicos. Numa parceria com a Fábrica Viúva Lamego, criou, a partir de 1957, os azulejos para as paredes das estações de Entrecampos, Campo Pequeno, Saldanha, Picoas, Rotunda, Parque, S. Sebastião, Palhavã, Sete-Rios e Restauradores. Seguiram-se Rossio, Socorro, Intendente, Anjos, Arroios, Alameda, Areeiro, Roma e Alvalade. Utilizou padrões geométricos, jogando com o movimento, tonalidade e ritmo, evitando criar grandes momentos de perturbação, tal como pedido pelo encomendador. O conjunto concebido para as diferentes estações apresentava uma grande unidade de concepção e simultaneamente uma harmoniosa riqueza de variações e singularidades. Infelizmente, como se sabe, a maior parte destas estações foi remodelada e redecorada, tendo as criações de Maria Keil sido substituídas por outras, encomendadas a outros artistas.

Também o mobiliário e a decoração de interiores ocuparam as preocupações artísticas de Maria Keil, que concebeu as peças para decorar o interior da Pousada de São Lourenço (mobiliário e candeeiros), na Serra da Estrela, assim como para o Restaurante Tito (mesas, cadeiras, candeeiros) e a Cervejaria Trindade (portas, armário, painéis decorativos em pedra, em Lisboa, entre outros. Fez ainda experiências em Tapeçaria executadas na Fábrica de Tapetes de Portalegre.

A arte de Maria Keil multiplicou-se ao longo de mais de sessenta anos por inúmeras formas e meios. Já nos anos 90, realizou uma exposição de Fotografia, tendo por motivo a roupa nos estendais em prédios do Bairro Alto. É lá que ainda mantém o seu atelier, embora hoje, aos noventa e três anos, lhe seja mais complicado trabalhar.
Mora desde 2003 na Residência Faria Mantero, uma enorme vivenda no Restelo, criada para acolher figuras da cultura portuguesa. São seis os seus residentes, entre eles, Maria Keil e o poeta Ramos Rosa.

Maria Keil gosta de desenhar no jardim e continua a ter um passe social para se deslocar e ver coisas novas.


Em 1989, o Museu Nacional do Azulejo organizou uma exposição monográfica do seu trabalho.
Já em 2005, a Biblioteca Nacional organizou a exposição Maria Keil Ilustradora dedicada à obra gráfica da artista.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

MIRITA CASIMIRO


Maria Zulmira Casimiro de Almeida, também conhecida como MIRITA CASIMIRO, nasceu em Viseu a 10 de Outubro de 1914. Foi uma das mais populares actrizes portuguesas.

Oriunda de uma família abastada, ligada à tradição tauromáquica (o seu pai era o celebrado cavaleiro José Casimiro de Almeida), Mirita, nome por que era tratada na intimidade, cedo mostrou interesse pelas artes do espectáculo, participando em récitas amadoras de beneficência, onde cantava canções tradicionais da Beira Alta, carregando no sotaque serrano e envergando trajes regionais típicos.
É assim que se apresenta pela primeira vez em Lisboa, no Teatro Nacional D. Maria II.
Estamos em 1934, e Lino Ferreira, empresário teatral, lembra-se de chamá-la para tomar parte na remodelação da revista Viva A Folia!, cantando as suas "toadilhas beiroas". O sucesso não se faz esperar, seguindo-se Olaré, Quem brinca, primeira revista de que é vedeta absoluta, Milho Rei e Anima-te Zé!. A rábula em que faz o papel de travesti na comédia João Ninguém, de 1936, traz-lhe um êxito sem precedentes, sendo a peça reposta incessantemente até aos anos 50.

"Muito magra, muito pequena, com um nariz enorme, (...) o seu talento, feito de nervos, é electrizante mas descontrolado. Tocando todas as facetas, tanto declama um número patriótico como lança, numa voz vigorosa e cheia de gritos, canções popularíssimas (Ribatejo, Maria Severa, Lisboa não sejas francesa), e, embora a rábula plena de imaginação seja o seu verdadeiro campo, abalança-se perigosamente aos números de charme". Assim descreve Vítor Pavão dos Santos a Mirita desses primeiros tempos, no seu livro A Revista À Portuguesa .

Em 1937, Leitão de Barros oferece-lhe a sua imortalidade cinematográfica em Maria Papoila. Personagem escrita à sua medida, que toma emprestada muito da sua persona artística, o filme é um êxito tremendo, muito devido à interpretação de Mirita. Actriz e personagem confundem-se desde então e para sempre no imaginário popular. Maria Papoila é uma visão crítica dos costumes "dissolutos" da capital pelos olhos vivos, mas ingénuos, de uma pastora que vem tentar a sorte para a cidade. No cancioneiro popular português, faz-se espaço para a Canção da Papoila na voz da actriz.

A par das revistas, Mirita participa também em operetas populares, como Ribatejo ou Colete Encarnado, curiosamente com temáticas e ambientes próximos da "aristocracia marialva" de que a actriz é oriunda.

Em 1940, casa-se com Vasco Santana, o mais popular cómico da época, formando com ele uma dupla teatral, do género Bucha e Estica, que o público não se cansa de aplaudir. Mirita Casimiro e Vasco Santana são, assim, o casal real do teatro popular português.

Pavão dos Santos retrata-os. "Juntos conhecem êxitos invulgares, que culminam, em 1945, com a opereta A Invasão e a revista Alto lá com o charuto!, o maior sucesso da década de 40. Aí se desdobra o talento de Mirita, em travesti no luso-americano Franklim de Oliveira, que faz o elogio da América, ou no Condutor da Carris, cantando Ó Santo Amaro, que muito se divulgou, ou, ainda, cantando e declamando a libertação da França, ao som do Mon homme, silhueta apache, cingida num vestido de cetim negro, saia fendida deixando ver a perna magra, que calça meia de rede."

Em 1946, porém, o casal divorcia-se, com algum escândalo e rumores de infidelidades mútuas. Mirita vê-se proscrita dos teatros onde Santana reina. Vê-se afastada dos palcos durante um ano, regressando ao Maria Vitória pela mão de Rosa Mateus e da sua companhia Série B, com a qual faz quatro revistas. Na de maior sucesso, Tico-tico, de 1948, interpreta a Menina da APA, numa rábula notável e imensamente aplaudida, que parodia as concorrentes dos concursos radiofónicos, a loucura do momento.

Mirita casa novamente, com um atleta, de quem tem uma filha, Maria. O seu êxito, contudo diminui e, incentivada por amigos do meio e entusiasmada pela experiência de alguns colegas, decide partir para o Brasil. Aí reside durante quase dez anos, conseguindo manter a carreira, embora sem grande sucesso.

Divorcia-se e regressa a Portugal.
Em 1966, inaugura uma nova fase da sua carreira, juntando-se ao recém formado Teatro Experimental de Cascais, onde, sob a direcção de Carlos Avilez, conhece novos sucessos com papéis de relevo em espectáculos como A Casa de Bernarda Alba de Garcia Lorca, Mar de Miguel Torga, A Maluquinha de Arroios de André Brun ou Bodas de Sangue, também de Garcia Lorca. As suas interpretações são notadas e admiradas por uma nova geração de teatro novo, e uma nova fase se abre na sua vida.

Em 1968, participa no filme Um Campista Em Apuros de Herlander Peyroteo. É a sua segunda participação no cinema, num papel secundário, mas também aí se parecem abrir novas portas. No entanto, nesse ano, Mirita sofre um violento e grave acidente de viação, na cidade do Porto, que a deixa incapacitada de trabalhar.

Profundamente deprimida pela situação de inactividade a que é forçada, Mirita Casimiro suicida-se na sua casa de Cascais, a 25 de Março de 1970.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

BOLO REI


O Bolo Rei não podia faltar no blog. É um dos bolos tradicionais do Natal, a par das filhoses, bilharacos, rabanadas e sonhos.
Come-se entre o Natal e o Dia de Reis (6 de Janeiro).
Redondo, com um buraco no meio, este "bolo rico" caracteriza-se pelos frutos ecos e frutas cristalizadas que se misturam à massa, mas também, e sobretudo, por conter uma fava indesejável e um brinde cobiçado (que em tempos chegou a ser uma libra em ouro).

Ao que parece, ao contrário do que se crê, a tal de União Europeia permite ainda hoje a inclusão do tão famigerado brinde, ainda que dentro de apertados parâmetros, mas a verdade é que não será fácil encontrar hoje à venda um Bolo Rei completo...
A primeira pastelaria portuguesa a produzir o Bolo Rei terá sido a Confeitaria Nacional, há mais de dois séculos.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

PASTILHAS PIRATA


Mais um item para as coisas desaparecidas que Portugal fabricou.


As pastilhas elásticas Pirata, as primeiras comercializadas por cá, provinham da Fábrica Diana, em Évora, pertencente ao Fomento Eborense. A par das pastilhas, publicavam também uma revista infantil com o mesmo nome.


Talvez seja da saudade, mas o sabor não tinha nada a ver com as de hoje, e eu sempre as preferi às Gorila.


A Fábrica Diana acabou por falir por altura do 25 de Abril. As Pirata desapareceram de circulação...




PIROLITO



Produto genuinamente português, o Pirolito, consistia de uma bebida gaseificada, comercializada numa garrafa que continha um berlinde no gargalo para conter a bebida. Conta quem é desse tempo que a grande atracção da bebida era justamente o dito berlinde, que se extraía partindo a garrafa, depois de consumida a bebida.

O pirolito foi comercializado por mais do que uma fábrica, havendo várias marcas de vários locais do país. As garrafas de pirolitos são hoje uma raridade, podendo encontrar-se algumas no Museu Municipal do Cadaval, onde existia uma fábrica da bebida. O Museu da Aldeia de São Jorge da Beira (antiga aldeia de Cebola), no concelho da Covilhã, junto às Minas da Panasqueira, também possui um exemplar da garrafa, pois também aí se fabricaram pirolitos.

Objecto de colecção, de arqueologia industrial e de memória colectiva, o Pirolito merece figurar na secção de raridades deste almanaque de coisas portuguesas.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

NUNO BRAGANÇA


Um dia peguei em uma caneta, em um tinteiro e em uma folha de papel, e fui sentar-me a uma pequena mesa em um pequeno gabinete, e escrevi no alto da folha e em letras grandes:
U OMÃI QE DAVA PULUS
Nuno Bragança, A NOITE E O RISO



Tendo sido um dos mais marcantes e originais autores da literatura portuguesa recente, Nuno Bragança é também um dos escritores portugueses mais esquecidos do grande público. Talvez devido à escassez da sua obra ou ao seu desaparecimento prematuro em meados da década de oitenta, não chegou a ser um escritor instituído e morreu antes de poder chegar a ser uma moda.

Três romances ímpares: A NOITE E O RISO, DIRECTA e SQUARE TOLSTOI. Uma colectânea de contos: ESTAÇÃO. E uma novela póstuma: DO FIM DO MUNDO.
Assina o argumento de OS VERDES ANOS, filme inaugural do Cinema Novo Português e chega a co-realizar, com Gérard Castello-Lopes e Fernando Lopes o filme NACIONALIDADE: PORTUGUÊS.
Integra-se no grupo de Católicos Progressistas, juntamente com Alçada Baptista, João Bénard da Costa e Pedro Támen, que funda a revista O Tempo e o Modo.
Como tantos, conjuga uma carreira de funcionário público com uma vida activa nos bastidores da resistência ao regime ditatorial.
Nos pouco menos de vinte anos que vão da publicação de A NOITE E O RISO, em 1969, até à sua morte, Nuno Bragança vive, escreve, interpreta e reinventa a literatura, dando-nos uma visão singular dessa época tão emblemática da história recente de Portugal.
O que é singular em Nuno Bragança é o modo como concilia um catolicismo profundo e essencial à militância em movimentos de extrema esquerda, como alia uma existência de trabalhador cinzento a uma reinvenção fulgurante do romance, como consegue estar na vanguarda artística vindo de uma família aristocrata conservadora. Não há em Nuno Bragança contradições, tudo cabe na sua personalidade e no seu tempo.
Todos os tremores que o país sentiu nesses tempos de mudança foram lidos e interpretados por esse homem sismógrafo. De escritor cinéfilo a católico bombista: Nuno Bragança foi o tempo que viveu e o modo como o escreveu.

(...)- a inquietante escrita que fala de um homem que dá pulos, i.e., que cresce.
Manuel Gusmão, Prefácio à 3ª edição de A NOITE E O RISO

A escrita de Nuno Bragança caracteriza-se por possuir uma aparente componente autobiográfica muito acentuada. Depois de conhecer a sua obra e ao investigar um pouco sobre a sua vida, rapidamente se conclui que a vida do escritor está de alguma forma nos livros até ao mais ínfimo pormenor.
Se a sua obra se resume a cinco volumes publicados, podemos dizer que esses cinco volumes são o autêntico real absoluto da vida e personalidade do escritor: a vivência do escritor reduzida a essa entidade inicial que é a palavra.

E se a sua obra se resume a cinco volumes, podemos destacar de entre os cinco a trilogia formada pelos romances A NOITE E O RISO, DIRECTA e SQUARE TOLSTOI. Três livros, como o princípio, meio e fim em que o escritor e argumentista estrutura a sua história ou como a santíssima trindade que o católico evoca.

A NOITE E O RISO, DIRECTA e SQUARE TOLSTOI: os três grandes pulos de Nuno Bragança.

Na parede por cima da cabeceira havia três objectos: um alfange de fancaria que um amigo me trouxera de Alcácer Quibir, a carabina 22 automática e uma foto de eu-muito-puto a correr direito ao mar por uma estrada abaixo. A foto tinha por baixo uma legenda:
U OMÃI QE DAVA PULUS
Nuno Bragança, SQUARE TOLSTOI


Depois chupei o rabo da caneta, que sabia a lavado e a polido, e escrevi por baixo e em letras pequenas o seguinte:
U omãi qe dava pulus era 1 omãi qe
dava pulus grãdes. El pulô tantu qe saiu
pêlo tôpu.
Nuno Bragança, A NOITE E O RISO


Nuno Bragança era um homem que quis ser mais, mais alto, mais longe, mais verdadeiro, mais real. Um homem que nunca abdicou de se sonhar mais alto através de cada gesto, cada atitude, cada palavra. Um homem que dava de facto pulos grandes.

A 7 de Fevereiro de 1985 Nuno Bragança morre em Lisboa, no quarto de hotel onde se encontra hospedado. “A minha dificuldade portuguesa em encontrar a prosa certa não a desligo eu dessoutra que é a maneira certa de ser em Portugal. Nem vejo bem como uma possa ser resolvida sem a outra. (...) Sinto que pertenço a um País que em parte me não quer.” Um país que ainda hoje não sabe onde quer Nuno Bragança. Um homem que pulava tão alto que um dia saiu pelo topo.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

CAMPO GRANDE



Quem se lembra dos carrinhos a pedais no Campo Grande?

Esta foto de 1979 documenta esse pedacinho das infâncias em Lisboa no pós-25 de Abril.

Havia vários modelos, com capota, sem capota. Em primeiro plano está este castanho, com matrícula CATARINA-14-06, mas ao fundo, à direita já vem a entrar na curva um outro branco, também descapotável.

Havia mais coisas no Campo Grande da altura, que entretanto se perderam.

Em primeiro lugar, a Piscina, com o café e esplanada, onde vivia um teimoso e genuíno pavão.

Depois, o Cinema Caleidoscópio, com sessões infantis (Bambi e outras animações dobradas em brasileiro) e ao lado, o lago com os barcos a remos.